7 de junho de 2008

2ª dose.

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade

-x-x-x-x-

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme

-x-x-x-x-

o pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

-x-x-x-x-

parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta

-x-x-x-x-

Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaramque a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa porque não quer
não porque não tem asa

-x-x-x-x-

eu ontem tive a impressão
que deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos

quem sou eu pra falar com deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus

-x-x-x-x-

minha memória evapore
feito a água
de uma lágrima

minha lembrança se vá
sem deixar lembrança alguma
em seu devido lugar

se um dia eu esquecer
que você nunca me esquecerá

-x-x-x-x-

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

(P. Leminski)